
Desafios e Caminhos alternativos
A recente imposição de uma tarifa adicional para 50% pelos Estados Unidos sobre derivados de cacau brasileiros acende um alerta para o setor produtivo nacional. Medidas como essa podem ameaçar a estabilidade da balança comercial agrícola, afetar diretamente a viabilidade da indústria nacional e o sustento de milhares de produtores rurais. Diante desse cenário, torna-se essencial compreender os impactos econômicos da taxação, bem como refletir sobre estratégias alternativas para garantir a sustentabilidade da cacauicultura brasileira.
Consequências imediatas da tarifa
A partir de 7 de agosto de 2025, os derivados de cacau produzidos no Brasil estarão sujeitos à cobrança de uma tarifa total de 50% ao entrarem nos Estados Unidos. O novo percentual inclui uma taxa adicional de 40% somada aos 10% já aplicados anteriormente. A estimativa do setor é que essa elevação tarifária represente um prejuízo direto de aproximadamente R$ 180 milhões apenas em 2025, o que equivale a US$ 36 milhões em perdas de receita para a indústria brasileira.
Os Estados Unidos são o segundo maior destino de exportação dos derivados de cacau brasileiro, responsáveis por cerca de 18% das vendas externas do setor. Produtos como a manteiga de cacau, essencial na indústria de confeitaria, são quase exclusivamente exportados para o mercado norte-americano. Dessa forma, o impacto é profundo e imediato.
Ameaça à indústria nacional e ao emprego
Com a barreira tarifária, muitas indústrias brasileiras não conseguem mais competir em preço no mercado norte-americano. Isso compromete diretamente o escoamento da produção, podendo elevar a ociosidade industrial de 23,8% para até 37%, conforme apontado pela Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). A consequência direta é a redução de turnos de trabalho, ociosidade de maquinário, cancelamento de investimentos e risco de demissões em massa.
Além disso, o uso do regime de drawback, que permite importações isentas de tributos com compromisso de exportação, fica comprometido. Isso gera insegurança jurídica para as empresas, possibilidade de multas por descumprimento contratual e elevação de custos operacionais. O prejuízo se amplia por toda a cadeia produtiva, atingindo agricultores familiares, cooperativas, trabalhadores rurais e a economia das regiões produtoras — principalmente Bahia, Pará e São Paulo.
Necessidade de ações emergenciais
O setor produtivo defende uma resposta articulada entre governo e iniciativa privada. Entre as propostas apresentadas pela AIPC estão:
- Abertura de negociações diplomáticas com os EUA para inclusão dos derivados de cacau nas exceções à tarifa;
- Prorrogação dos prazos legais de drawback para empresas afetadas;
- Criação de linhas de crédito emergenciais para auxiliar a manutenção das atividades industriais;
- Estímulo a novas rotas de exportação e diversificação de mercados;
- Apoio à comunicação e valorização dos produtos no mercado interno.
Essas medidas são fundamentais para impedir o colapso de uma cadeia produtiva que emprega aproximadamente 200 mil pessoas direta e indiretamente e movimenta parte significativa da economia rural brasileira.
Estratégias para diversificação de mercados
A dependência do mercado norte-americano pode ser reduzida por meio da busca ativa por novos parceiros comerciais. Países da América Latina e Caribe, como Colômbia, Chile e México, oferecem oportunidades interessantes. Já a União Europeia, embora mais exigente em termos regulatórios, valoriza produtos sustentáveis, com certificações como Fair Trade e Orgânico, podendo agregar valor à produção brasileira.
Além disso, os países do Oriente Médio e Ásia, como Emirados Árabes Unidos, Índia e Coreia do Sul, têm aumentado a demanda por chocolates premium e ingredientes naturais — um nicho em que o Brasil pode se destacar, desde que invista em qualidade, rastreabilidade e certificação.
Fortalecimento do mercado interno
Paralelamente à expansão internacional, é estratégico fomentar o consumo interno de cacau e seus derivados. Entre as medidas recomendadas estão:
- Valorização dos chocolates artesanais e bean to bar (“do grão a barra”), com origem certificada e produção sustentável;
- Promoção do turismo rural e do “cacau de origem”, com rotas turísticas, degustações e experiências sensoriais em áreas produtoras;
- Estímulo a campanhas de consumo consciente, incentivando os brasileiros a preferirem produtos nacionais;
- Inserção da produção nas compras públicas, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), para gerar demanda e promover inclusão social.
Tais estratégias podem ampliar o mercado consumidor e fortalecer o elo entre campo e cidade, promovendo o desenvolvimento regional e a soberania alimentar.
Desafios e oportunidades em tempos de incertezas
A imposição tarifária pelo governo dos Estados Unidos representa um desafio grave e imediato para a cadeia do cacau brasileiro. Contudo, também abre espaço para reflexão e reorganização estratégica. A Sustentabilidade da Cacauicultura dependerá da capacidade de adaptação dos produtores, da articulação do setor industrial e do apoio efetivo das políticas públicas. A diversificação de mercados, o fortalecimento do consumo interno e o investimento em valor agregado devem ser os pilares de uma nova etapa para o setor.
Fontes
Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). Tarifa de 50% pode gerar perda de R$ 180 milhões para a cacauicultura brasileira e elevar ociosidade da indústria para até 37%. Mercado do Cacau, 2025. Disponível em: https://mercadodocacau.com.br/tarifa-de-50-pode-gerar-perda-de-r-180-milhoes-para-a-cacauicultura-brasileira-e-elevar-ociosidade-da-industria-para-ate-37/
Canal Rural. Tarifaço pode causar prejuízo de R$ 180 milhões à indústria do cacau, avalia setor. Canal Rural, 2025. Disponível em: https://www.canalrural.com.br/diversos/tarifaco-pode-causar-prejuizo-de-r-180-milhoes-a-industria-do-cacau-avalia-setor/