
Uma ameaça crescente
As abelhas são fundamentais para a agricultura e para a saúde dos ecossistemas. Sem elas, grande parte das culturas agrícolas perde qualidade, quantidade e estabilidade. Porém, os polinizadores enfrentam uma crise silenciosa. De acordo com os pesquisadores Chowdhury & Gupta (2025), o uso indiscriminado de pesticidas, somado à contaminação ambiental e a outros fatores como doenças, parasitas e perda de habitat, está diretamente ligado ao declínio das populações de abelhas.
Recentemente, Chowdhury & Gupta (2025) publicaram um artigo de revisão na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, em setembro de 2025, onde evidenciam que pesticidas, fungicidas, acaricidas e até herbicidas têm impacto direto ou indireto na saúde das abelhas. Mostrando um claro resultado: colônias mais fracas, maior mortalidade, menor produtividade e risco crescente para a segurança alimentar.
O peso da agricultura moderna
A intensificação agrícola trouxe ganhos de produtividade, mas também aumentou a dependência de defensivos químicos. Herbicidas, fungicidas, inseticidas e acaricidas passaram a ser rotina em lavouras, pomares e áreas de produção intensiva. As consequências desse cenário recaem também sobre as abelhas. Pulverizações, sementes tratadas e resíduos persistentes acabam atingindo os polinizadores de várias formas. Até mesmo produtos que não têm como alvo os insetos, como os herbicidas e fungicidas, impactam indiretamente os polinizadores. A redução da diversidade floral causada por herbicidas, por exemplo, compromete a nutrição das colônias.
Como os pesticidas chegam às abelhas
Os caminhos de exposição são múltiplos:
- Pulverizações aéreas ou terrestres que atingem diretamente as abelhas em voo.
- Resíduos em pólen, néctar e flores de plantas tratadas com agrotóxicos sistêmicos.
- Gotículas de gutação em plantas como milho e morango, contaminadas com inseticidas absorvidos pela raiz.
- Água contaminada em bebedouros ou canais de irrigação.
- Partículas em suspensão no ar liberadas durante o plantio de sementes tratadas.
- Cera e favos contaminados por acaricidas usados dentro das colmeias.
Segundo a revisão, já foram identificados 173 compostos diferentes em apiários, confirmando que não é uma única molécula que causa danos, mas sim um coquetel químico a que as abelhas estão expostas.
Veneno em pequenas doses: o perigo do efeito subletal
Nem sempre os pesticidas matam de imediato. Em concentrações menores que a letal, eles causam efeitos subletais, que comprometem o funcionamento das colônias:
- Desorientação, que impede o retorno à colmeia.
- Dificuldade em encontrar alimento e retornar à colmeia.
- Redução da produção de rainhas, essencial para a renovação das colônias.
- Supressão do sistema imunológico: maior suscetibilidade a doenças e parasitas.
- Alterações no comportamento de voo e forrageio.

Esses efeitos silenciosos enfraquecem gradualmente as colônias, favorecendo o colapso. Em colônias de abelhas como a Bombus terrestris, por exemplo, a exposição ao inseticida tiametoxam reduziu em até 85% a produção de novas rainhas. Já em abelhas melíferas como a Apis mellifera, os efeitos se traduzem em menor produtividade e maior risco de colapso das colmeias.
O ciclo vicioso: pesticidas, doenças e parasitas
O artigo de Chowdhury e Gupta (2025) destaca que os pesticidas não agem isoladamente. Os agrotóxicos, ao enfraquecer o sistema imunológico, criam terreno fértil para a disseminação de doenças, criando uma verdadeira “tempestade perfeita”. Assim, forma-se um ciclo de estresse químico e biológico que acelera a mortalidade das colônias.
- Acaricidas: aplicados contra o ácaro Varroa destructor, deixam resíduos tóxicos na cera e comprometem larvas.
- Parasitas e vírus: o contato com pesticidas enfraquece a imunidade e aumenta a disseminação de doenças como o Deformed Wing Virus.
Muitos produtores ainda veem herbicidas e fungicidas como produtos “seguros” para abelhas. Mas a revisão alerta para riscos menos óbvios:
- Herbicidas: reduzem a diversidade floral, empobrecendo a dieta das abelhas e gerando desnutrição.
- Fungicidas podem atuar como sinergistas, aumentando a toxicidade dos inseticidas, ao bloquear o sistema de detoxificação dos insetos.
Na prática, isso significa que até defensivos aplicados sem alvo direto nas abelhas acabam comprometendo sua sobrevivência. Essas combinações explicam a ocorrência do Colony Collapse Disorder (CCD), fenômeno em que colônias aparentemente saudáveis colapsam de forma repentina.
Polinizadores e sustentabilidade agrícola

Os pesquisadores reforçam que abelhas e agricultura são interdependentes. A eficiência da polinização influencia diretamente o tamanho dos frutos, a formação de sementes e até o valor nutricional da produção.
Declínios nas populações de abelhas afetam não apenas a biodiversidade, mas também a segurança alimentar e a economia agrícola. Perder polinizadores significa colher menos, produzir alimentos de menor qualidade e reduzir a resiliência dos agroecossistemas.
Monoculturas e a perda da diversidade floral
Outro ponto crítico é o impacto das monoculturas. Ambientes homogêneos reduzem a oferta de flores ao longo do ano, privando as abelhas de uma dieta variada. A falta de recursos contínuos compromete a nutrição e aumenta a vulnerabilidade das colônias.
Quando combinada com o uso de pesticidas, a monocultura cria um ambiente hostil e pouco favorável à sobrevivência dos polinizadores.
O papel do agricultor
Apesar do cenário desafiador, há medidas que podem reduzir os impactos. O artigo sugere:
- Evitar pulverizações durante o dia, quando as abelhas estão ativas.
- Respeitar períodos de floração, reduzindo a aplicação de químicos em momentos críticos.
- Comunicar vizinhos e apicultores antes de pulverizar, permitindo o manejo de colmeias.
- Aumentar áreas com diversidade floral, criando refúgios para polinizadores.
Essas medidas não são apenas boas práticas ambientais. Elas significam mais produtividade, menos conflitos e mais aceitação em mercados que valorizam sustentabilidade. A cooperação entre agricultores e apicultores é vista como essencial para minimizar riscos.
Lacunas de pesquisa e necessidade de ação
Mesmo com avanços científicos, Chowdhury & Gupta (2025) apontam importantes lacunas:
- Pouco se sabe sobre os efeitos crônicos subletais em nível de colônia.
- Não existem limites bem definidos de resíduos em pólen e néctar que provoquem mortalidade.
- Faltam biomarcadores precoces para detectar estresse nas abelhas.
- A maioria das pesquisas foca em Apis mellifera, deixando de lado abelhas silvestres e solitárias
Essas lacunas tornam urgente investir em pesquisas interdisciplinares e políticas públicas que fortaleçam práticas agrícolas seguras para os polinizadores.
Proteger as abelhas é proteger a agricultura
A mensagem central do artigo é clara: a crise das abelhas é multifatorial, mas os pesticidas e contaminantes têm papel decisivo em sua mortalidade. Esse cenário ameaça a biodiversidade, a estabilidade dos ecossistemas e a produção agrícola.
Para produtores, significa que cuidar das abelhas não é apenas um gesto ambiental, mas um investimento direto na produtividade e no futuro da agricultura. Adotar práticas mais seguras, fortalecer a cooperação com apicultores e apoiar políticas públicas voltadas à proteção dos polinizadores são passos fundamentais para garantir colheitas mais seguras e estáveis.
Nesse mesmo caminho, a Defense Fertilizer tem se posicionado como parceira do produtor rural ao desenvolver soluções inovadoras que unem eficiência agrícola e responsabilidade ambiental. A empresa aposta em formulações à base de extratos vegetais e minerais, capazes de estimular a produtividade e reforçar a proteção natural das plantas, sem gerar resíduos tóxicos. O compromisso é claro: apoiar uma agricultura mais saudável, certificada e sustentável, alinhada às exigências do mercado e às práticas de manejo que preservam polinizadores e ecossistemas.
Para mais informações, leia o artigo:
CHOWDHURY, Ananya Roy; GUPTA, Sudha. An overview of complex threats to bee populations: pesticides, contaminants, and the urgency for research. Proceedings of the National Academy of Sciences, India. Section B: Biological Sciences, [s. l.], 2025. DOI: https://doi.org/10.1007/s40011-025-01741-5

