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A Importância Agronômica das Bactérias Fixadoras de Nitrogênio e o Papel de Bradyrhizobium e Bioinsumos na Sustentabilidade da Cultura da Soja

Nutrição inteligente, proteção completa.

A busca por práticas agrícolas mais sustentáveis, eficientes e alinhadas aos desafios contemporâneos de produtividade e conservação ambiental impulsiona a prática de biotecnologias inovadoras. Nesse contexto, microrganismos benéficos assumem papel central na agricultura moderna, destacando-se como componentes estratégicos de sistemas produtivos de alta performance. Entre esses microrganismos, as bactérias do gênero Bradyrhizobium desempenham função essencial para o desenvolvimento da soja (Glycine max L.), configurando-se como protagonistas da Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN).

Fixação Biológica de Nitrogênio: Fundamento Ecológico e Agronômico da Soja

A FBN é reconhecida como um dos pilares da sustentabilidade agrícola e baseia-se na interação simbiótica entre as raízes da soja e bactérias fixadoras de nitrogênio. Essa simbiose envolve um processo de quimiocomunicação altamente especializado, no qual compostos liberados pelas raízes induzem a expressão de sinais moleculares bacterianos que desencadeiam a formação dos nódulos radiculares — estruturas onde ocorre a conversão de nitrogênio (N₂) atmosférico em amônia, forma assimilável pela planta.

Dados presentes na literatura analisada indicam que a soja é capaz de fixar, anualmente, aproximadamente 16,4 teragramas (Tg) de nitrogênio, representando cerca de 77% do total fixado por leguminosas no mundo. Esses números evidenciam a magnitude ecológica e econômica da FBN, sobretudo em solos tropicais que naturalmente demandariam grandes aportes de fertilizantes nitrogenados.

Relevância do Bradyrhizobium para o Manejo Nutricional da Soja

O Bradyrhizobium japonicum e espécies correlatas são fundamentais para o adequado desempenho fisiológico da cultura da soja. Ao estabelecer simbiose efetiva, essas bactérias suprem grande parte da necessidade nitrogenada da planta, reduzindo drasticamente a dependência de fontes químicas. A importância agronômica dessa relação é amplificada pelo fato de que a introdução anual de estirpes eficientes possibilita maior competitividade frente às populações nativas do solo, resultando em nódulos mais ativos e maior taxa de FBN.

Ensaios de campo descritos em estudos recentes demonstram aumentos significativos de produtividade, frequentemente excedendo 1,2 t ha⁻¹, quando estirpes selecionadas são empregadas. A expansão do sistema radicular, o aumento do número e do volume de nódulos e a melhoria da absorção de nutrientes são efeitos diretos dessa interação.

Coinoculação e Promoção de Crescimento Vegetal

O uso da coinoculação — associação de Bradyrhizobium com Azospirillum brasilense — representa avanço tecnológico consolidado na sojicultura brasileira. Essa estratégia amplia a nodulação, estimula a síntese de fitormônios e favorece um sistema radicular mais robusto e eficiente. Como resultado, as plantas apresentam maior tolerância a estresses bióticos e abióticos, além de maior capacidade de explorar camadas mais profundas do solo.

Além de fixar nitrogênio, as bactérias noduladoras exercem múltiplas funções complementares de promoção de crescimento:

  • Produção de ácido indolacético (IAA), estimulando o desenvolvimento radicular;
  • Solubilização de fósforo, disponibilizando frações insolúveis desse nutriente;
  • Síntese de sideróforos, aumentando a disponibilidade de ferro e contribuindo para processos metabólicos essenciais;
  • Melhoria da microbiota do solo, favorecendo comunidades microbianas benéficas e aumentando a resiliência biológica do ecossistema.

Esses mecanismos evidenciam que os rizóbios atuam não apenas como fixadores de nitrogênio, mas como agentes multifuncionais de promoção de crescimento e de saúde do solo.

Impactos Ambientais e Estratégicos da FBN

Do ponto de vista ambiental, a FBN é uma das mais relevantes ferramentas biológicas para redução do impacto climático da agricultura. A substituição dos fertilizantes nitrogenados por nitrogênio fixado biologicamente evita a emissão de grandes quantidades de CO₂ equivalentes associados à produção industrial desses insumos. Estimativas demonstram que, na última safra, a eliminação do uso de fertilizantes nitrogenados na soja brasileira impediu a emissão de 230 milhões de toneladas de CO₂ equivalentes.

O impacto econômico é igualmente expressivo. A redução da dependência de insumos sintéticos permitiu economia nacional estimada em 130 bilhões de reais, fortalecendo a autonomia produtiva e a competitividade internacional do agronegócio brasileiro.

Além disso, o uso excessivo de fertilizantes nitrogenados pode inibir a atividade dos rizóbios, reduzir a formação de nódulos e limitar a eficiência da FBN — processo já evidenciado por diversos estudos. Assim, manejar adequadamente a adubação e priorizar a inoculação com estirpes eficientes são medidas indispensáveis para a sustentabilidade agronômica.

Bioinsumos como Vetores da Agricultura Sustentável

Os bioinsumos têm ganhado destaque por integrarem práticas produtivas mais limpas, eficientes e ambientalmente responsáveis. Pautados no uso de microrganismos benéficos, eles permitem:

  • Redução de custos com fertilizantes químicos,
  • Diminuição do impacto ambiental,
  • Fortalecimento da microbiota do solo,
  • Aumento da resiliência produtiva frente a estresses climáticos,
  • Melhoria da sanidade e da qualidade fisiológica das plantas.

A tendência é de crescimento contínuo dessa tecnologia, impulsionada pela demanda global por sistemas agrícolas sustentáveis e pela necessidade de mitigar impactos ambientais associados à produção em larga escala.

Perspectivas para a Agricultura Sustentável

A integração entre FBN, uso de estirpes eficientes de Bradyrhizobium e o uso crescente de bioinsumos representa uma revolução silenciosa na agricultura brasileira, especialmente na sojicultura. Esses microrganismos desempenham funções essenciais que transcendem o suprimento nutricional, influenciando diretamente a saúde do solo, a produtividade das lavouras e a sustentabilidade dos sistemas agrícolas.

Assim, investir no manejo microbiano do solo com bioinsumos não é apenas uma estratégia produtiva, mas uma necessidade para a construção de agroecossistemas resilientes, competitivos e ambientalmente responsáveis. O avanço do uso de rizóbios e outros microrganismos benéficos fortalece a agricultura nacional.

FONTES:

BUENO, A.F.; MAZARO, S.M. (Eds.). Bioinsumos na cultura da soja. Brasília, DF: Embrapa, 2022. Disponível em: https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1143066/bioinsumos-na-cultura-da-soja

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HUNGRIA, M.; CAMPO, R. J.; CHUEIRE, L. M. O.; GRANGE, L.; MEGÍAS, M. Symbiotic effectiveness of fast-growing rhizobial strains isolated from soybean nodules in Brazil. Biological Fertility of Soils, v. 33, p. 387-394, 2001. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s003740100338

NAKEI, M.D.; VENKATARAMANA, P.B.; NDAKIDEMI, P.A. Soybean-Nodulating Rhizobia: Symbiotic Effectiveness. Frontiers in Sustainable Food Systems, v. 6, 824444, 2022. Disponível em: https://www.frontiersin.org/journals/sustainable-food-systems/articles/10.3389/fsufs.2022.824444/full